Eu assisti e gostei. Entender é outra história.



Olá~ São 21:42h enquanto digito isso aqui, após folhear um bloco de notas antigo sobre coisas das quais postar. Sabe quando você, de repente, se depara com uma situação enquanto lava a louça ou sei lá, e começa a debater sobre isso consigo mesma (torcendo para que ninguém apareça no cômodo e te veja discutindo com você mesma)? Bom, eu decidi, há uns anos, que sempre que isso me ocorresse eu anotaria em algum lugar para depois escrever sobre. O problema é que, quando vou digitar, descubro que todos os argumentos divinos e super geniais só existiam quando você estava discutindo na sua cabeça.


Dito isso, folheei este meu bloco de notas e vi alguns temas legais que eu queria trazer. Um deles, no entanto, é sobre filmes que eu simplesmente não entendi. Sim, acho que a maioria se encaixa na categoria de surrealismo, pois o propósito justamente desses filmes é você não entender porcaria alguma. Cheios de subtextos e coisas aleatórias que, por acaso, só fizeram sentido na cabeça do autor. Mas tudo é lindo, e você aceita aquilo, coloca na sua caixinha de filmes cool.


O Sanatório da Clepsidra (1973) é um filme que conta a história de Joseph, um homem que viaja até um sanatório para visitar seu pai, que está internado lá. Chegando lá, o médico lhe explica que o tempo no lugar não funciona como no mundo real. O tempo é elástico, onírico, desconexo — uma maneira que encontraram para “cuidar” dos pacientes. A partir daí, só pra trás. Tu já não entende mais é nada, os pés saem pelos ouvidos.

Como parece um sonho, nada faz muito sentido; de repente estão falando sobre coisas absurdas que o personagem ignora, e de repente ele atravessa uma cama indo parar numa manifestação de pessoas vestidas de pássaros. Uma coisa até notável é a infantilidade recorrente do personagem. Você ligeiramente nota que, em muitos momentos, ele parece uma criança de 10 anos — mas eu entendi que faz parte. Assim como um bom filme estrangeiro dos anos 70, temos seios femininos, subtextos e, no final, parecia que você estava no começo.

Eu entendi? Não

Eu amei? Óbvio.

Já vi um bocado de vezes! — eu queria muito ler o livro, mas o que achei custava 900 contos (não entendi também, seguindo) e em idiomas que não quero. Também queria um post somente dedicado a esse filme, pois tem muita teoria narrativa que circula na minha cabeça.


As Pequenas Margaridas (1966) acho que é até bem conhecido. Duas minas com o nome de Marie decidem sair por aí metendo o loko. Já que o mundo está podre, elas também vão ser “podres”. Passam o filme enganando homens mais velhos, destruindo comida, zoando comportamentos “respeitáveis” e fazendo um monte de coisa sem sentido lógico.

Embora seja um filme feminista, político e cheio de crítica social, eu só acho que essas meninas fumaram todo o estoque que havia pra fumar e saíram por aí igual o meme natureza né? sagrada né?. E então, veio o diretor, fumou o resto que elas não haviam fumado e fez essa obra-prima. O filme não é sobre o que acontece, e sim como acontece. Caos? Temos. Efeitos especiais esquisitos? Temos. Narrativa interrompida? Temos. Rebeldia? Temos também.

É lindo.
Madame Tutli-Putli (2007) é, de fato, algo que pra mim era mais um filme sem lógica, apenas cheio de significados profundos. Mas, após assistir muitas vezes seguidas, comecei a ver que não é tão difícil assim quanto o caos do filme do Sanatório. Ele é um curta-metragem — o que já é bom para a cabeça — e, ainda por cima, em stop motion. Ele é lindo, esteticamente falando.

A gente acompanha a personagem do título embarcando num trem; ela tem muitas bagagens. Muitas mesmo. Dá pra notar que é uma personagem que está de mudança (não literalmente), e, dado o seu estado, não parece ser uma mudança muito querida. Pela quantidade de bagaceira, é uma personagem que não quer desapegar (ah, se eu me mudo levo até as pedras do quintal). Dentro do trem temos muitas analogias sobre a vida, que é melhor assistir pausando e apreciando de fato.

No geral, eu não entendi (você precisa ser muito inteligente pra isso, coisa que tenho em falta), mas é lindo e carrega muita coisa (igual à bagagem dela).

Françoise (2001) entrega o puro suco do Brasil. Mais um curta-metragem. Nele, um homem está na rodoviária (isso é muito Brasil) cuidando da sua vida, quando brota das profundezas uma jovem muito biruta das ideias, falando coisa com nada. Essa é a Nina, num mundo paralelo onde não conseguiu se vingar da Carminha. Tem muito monólogo que com certeza fez sentido para alguém — e pra quem roteirizou isso.

Tendi ó: negativo.

Mas eu gostei, e já assisti muitas vezes. Às vezes, fico com uma sensação de desamparo no final, como se você estivesse meio perdida na rodoviária, igual à personagem, procurando alguma coisa. Meio solitário. Não sei.


A Montanha Sagrada (1973) — não adianta, esse você caça no quinto dos infernos pra saber o que está acontecendo, mas não entende nada. Não tem exatamente uma premissa como as outras, simplesmente é o que é. Busca pelo sentido da vida (que, pelo visto, não foi encontrado, pois sentido está em falta). Me parece mais uma experiência transcendental, ou algo assim. Fez Proerd e, graças a Deus, nunca teve experiências com coisas ilícitas? Esse filme te dá uma amostra.

Pra ser justa com essa coisa de sinopse, a gente começa com um ladrão vagando, que se parece com Jesus: crucificado, humilhado... enfim, uma segunda-feira normal. Ele recebe uma proposta de um alquimista que lhe oferece uma experiência espiritual. Daí, gente, só ladeira abaixo. Animais vestidos, pessoas nuas (anos 70, né), rituais, bagaceira em cima de bagaceira. Sim, tem crítica ao capitalismo, à falsa espiritualidade e tudo mais. Eu só não consegui achar.

Estava só o meme da Nazaré Tedesco — só que com um sorriso no rosto, pois eu curti.


Links: 

Um comentário:

  1. Cheguei a começar As Pequenas Margaridas depois de ver um monte de prints legais e edits do filme, não cheguei nem na metade porque não estava entendendo/gostando da história kkkkkk
    A Montanha Sagrada cheguei a ver até metade e achei visualmente tudo muito bonito e consegui ver sentido em várias cenas, só não terminei porque minha assinatura no streaming que eu estava vendo acabou.
    Geralmente quando não entendo um filme pesquiso na internet review, resumo ou explicação das coisas pra não ficar chateada de finalizar sem ter absorvido nada.

    Sobre o primeiro parágrafo do post, dos bons argumentos só existirem na nossa cabeça, isso me lembrou um tiktok em inglês que vi recentemente que citava "hobbies" pra se ter (?). Vou transcrever aqui eles.
    1. The Comeback Journal
    Compile uma lista de perguntas frequentes/irritantes sobre tópicos pelos quais você é apaixonado e escreva respostas detalhadas e satisfatórias para cada uma. Cheio de argumentos convincentes + listando recursos confiáveis ​​que respaldem suas afirmações. Você terá respostas para uso diário!!
    2. Xadrez conversacional
    Você preverá o fluxo de uma conversa e a expandirá para todas as respostas possíveis. Adapte uma desculpa/resposta/transição para cada resposta que você acha que a pessoa diria.
    Assim como o Comeback Journal, isso o salvará durante debates e discussões e o ajudará a ser AQUELA pessoa em uma sala cheia de conexões em potencial.

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